INTRODUÇÃO
Sabe-se que a presença de corpo estranho no trato urinário pode ser causa de processo obstrutivo e/ou litogênese. A migração indesejável de clipe Hem-o-Lok (Weck Closure Systems, Research Triangle Park, Carolina do Norte) é raramente evidenciada; ocorrendo com maior frequência para a bexiga, pós prostatectomia radical laparoscópica e/ou robótica. A migração para o sistema excretor pós-nefrectomia é de ocorrência rara.
Relato de caso
Paciente de 52 anos, sexo masculino, com diagnóstico incidental de tumor de 3,2 cm do polo inferior do rim direito (Figura 1) foi submetido à nefrectomia aberta, sem clampeamento do pedículo vascularrenal e isquemia quente. O laudo anatomopatológico revelou a presença de carcinoma de células claras, Furhman II e com margens negativas. Aos quatro anos de pós operatório, após uma maratona, apresentou dor em cólica referida no flanco direito, acompanhada de hematúria. A UroTC diagnosticou, a presença de cálculo uretreral proximal direito, obstrutivo, de 1,0 x 0,5 cm e 620UH (Figura 2). Realizou-se ureterorrenoscopia flexível direita, que evidenciou não um cálculo, mas a presença de um clipe Hem-o-Lok intraureteral. Figura 3). Este foi extraído com utilização de sonda extratora Dormia, e um cateter ureteral duplo J foi implantado ao término do procedimento, por uma semana.
DISCUSSÃO
A nefrectomia parcial (NP) é o tratamento padrão para pequenos tumores renais, por preservar a função renal, melhorar a sobrevida global e diminuir a taxa de mortalidade geral [1]. Clipes cirúrgicos, como o Hem-o-Lok, são amplamente utilizados para clampear os vasos sanguíneos do pedículo vascular renal, assim como auxiliar a correção do defeito renal após NP, tendo em vista à sua fácil aplicação e fixação segura [2].
A migração pós-operatória de clipes cirúrgicos para o trato urinário após NP é uma complicação rara, com poucos relatos publicados até o presente momento.
Transformam-se, quando em contato direto com a urina, em matriz desencadeadora de formação de cálculos, responsáveis por morbidade significativa para os pacientes [4].


Miller et al [3] relataram a migração espontânea de clipes de sutura de Lapra-Ty absorvíveis para o trato urinário após NP laparoscópica. Massoud [4] relatou a migração de clipe cirúrgico metálico para o trato urinário após NP aberta.
Recentemente, Lee et al [2] publicaram um caso de migração de clipe Hem-o-Lok para o trato urinário após NP laparoscópica assistida por robô.
Sabe-se que a migração vesical de clipe Hem-o-Lok ocorre com maior frequência após prostatectomia radical robótica. Turini e associados[5] relataram uma série de casos de pacientes submetidos à prostatectomia radical robótica que evoluíram com infecção do trato urinário recorrente, distúrbios miccionais e hematúria, em decorrência de migração vesical de clipe Hem-o-Lok
Neste relato de caso, a migração ureteral de clipe cirúrgico ocasionou obstrução do trato urinário superior.
Por essa razão, atenta-se para os riscos dos grampos posicionados próximos ao trato urinário, devendo-se removê-los durante a cirurgia, intencionando-se minimizar migração indesejável para o sistema excretor.