Introdução
A incidência de hérnia inguinal no adulto é alta, com predominância no sexo masculino 9:11. Hérnia inguinal contendo estruturas vesicais é uma condição extremamente rara, variando entre 0,36%2 e 1% a 3%3 das hérnias. Sua incidência é maior em homens obesos acima de 50 anos. Em vista da sintomatologia escassa, 77% delas são diagnosticadasno intraoperatório. Outro obstáculo é o fato de geralmente associar-se à obstrução do trato urinário baixo, dificultando a distinção dos sintomas de micção pelo envolvimento prostático4. Descreveremos o caso raro de um homem de 85 anos, com Hiperplasia Prostática Benigna, apresentando uma hérnia inguinal de um divertículo de bexiga encarcerado diagnosticado no intraoperatório.
Método
Relato de caso e análise de diagnóstico e conduta baseada na literatura publicada digitalmente referente.
Resultado
Paciente, masculino, 85 anos. Encaminhado ao hospital de Toledo-Pr, com quadro de dor abdominal difusa, há 1 mês, e infecção do tratourinário, em uso prévio de SVD. Há 5 dias, evoluiu com retenção urinária, disúria. E há dois dias, piora da dor em FID e hipogastro. Comorbidades: Hiperplasia Prostática Benigna e HAS. Ao exame físico, bom estado geral e hemodinamicamente estável. Abdomen globoso, RHA presentes. Dor à compressão em FID e região inguinal direita; massa palpável, dolorosa, redutível, não pulsátil e elástica em região inguinal direita. Foi encaminhado ao Centro Cirúrgico para drenagem e investigação da cavidade abdominal, por laparotomia infraumbilical. Desfeitas as aderências, observou-se parte da bexiga herniada- Figura 1. Após manobras de redução ineficazes, realizou-se inguinotomia. O funículo foi isolado, identificando o saco herniário com parte da bexiga- Figura 2, e reduzido- Figura 3. Analisou-se a integridade da bexiga e a hérnia foi corrigida pela técnica de Lichtenstein. Sem intercorrência
Discussão
A hérnia inguinal de divertículo de bexiga é rara, prevalente em homens obesos acima de 50 anos1. Quanto à etiologia, há dois fatores: o envelhecimento, com perda do tônus do tecido de suporte da bexiga e do próprio orgão; e o aumento da pressão interna da bexiga, por obstrução urinária e/ou obesidade5. Sintomas do trato urinário inferior foram descritos, porém são inespecíficos, pois são frequêntes em obstrução ou infecções urinárias4. Contudo há sintomas característicos como a redução da hérnia pós-micção e a micção em duas fases, com o esvaziamento parcial da bexiga seguido do seu término por compressão manual do saco hernial6, inexistentes no caso relatado pelo uso da SVD.O exame de imagem indicado é a TC, por localizar a hérnia e fornecer avaliação de estruturas abdominais-pélvicas6. Optamos por realizá-la devido à piora da dor em FID do paciente, porém, não foi visualizada a hérnia. Acredita-se que tenha reduzido espontaneamente durante o exame. Quando sintomáticas, seu tratamento é cirúrgico. Há dados de que em aproximadamente 12% das hérnias de bexiga inguinal, a bexiga está danificada2. Apesar de estudos mostrarem a indicação de ressecção do divertículo de bexiga, optamos por mantê-lo, visto que este apresentáva-se pérvio, sem sinais de isquemia ou de lesões. Além disso, em outros estudos foi verificado que a ressecção da bexiga contribui para o desenvolvimento de infecções6.
FIGURA 1
Parte da bexiga urinária herniada no canal inguinal direito

Fonte: Arquivo Pessoal.
FIGURA 2
Saco herniário contendo parte da bexiga.

Fonte: Arquivo Pessoal.
FIGURA 3
Divertículo de bexiga com o saco herniário reduzidos à cavidade peritoneal.

Fonte: Arquivo Pessoal.