INTRODUÇÃO
Lepidopterismo é o conjunto de manifestações cutâneas e sistêmicas após contato com lagartas. Na maioria das vezes essas reações são leves e autolimitadas, porém, no caso de lagartas do gênero Lonomia, podem requerer suporte intensivo e intervenção médica imediata. Os sinais e sintomas mais graves incluem hematúria, sangramento gengival, epistaxe e falência renal. Hemorragias ocorrem devido a distúrbios de coagulação associados a depleção de fibrinogênio, fatores V, VIII e XIII, alargamento de RNI e prolongamento de TTPA.
OBJETIVOS
Por tratar-se de patologia rara, o objetivo do trabalho consiste em apresentar relato de caso a fim de conscientizar profissionais da área sobre possibilidade etiológica de hematúria e, assim, otimizar o diagnóstico e tratamento dos pacientes acometidos.
RELATO DE CASO
Paciente J.M.N., 69 anos, masculino, comparece à urgência do serviço com queixa de hematúria franca e persistente iniciada dois dias antes, associada a polaciúria, dor abdominal em baixo ventre e equimoses difusas pelo corpo. Nega outras queixas, quadros prévios semelhantes, outros focos de exteriorização de sangramento ou sintomas infecciosos. Realizou ultrassom de vias urinárias sem alterações significativas e revisão laboratorial que evidenciou comprometimento de função renal, queda de hemoglobina, plaquetopenia, alargamento de RNI e hipofribrinogenemia, configurando possibilidade de CIVD. Em análise de urina apresentava piócitos e hematúria intensa, sem bactérias coráveis ao gram.
Em atendimento multidisciplinar em conjunto com equipe de hematologia, o paciente relatou acidente com Lonomia sp – contato após perfuração por mourão em membro superior quatro dias antes do início do quadro – sendo diagnosticada síndrome hemorrágica secundária ao contato com o animal. Recebeu soro antilonômico no serviço de toxicologia do Hospital João XXIII, retornando ao Hospital Felício Rocho para continuação do tratamento.
Realizada sondagem vesical de demora com irrigação vesical e monitorização de sangramento com hemograma e coagulograma a cada 12 horas.
Após melhora parcial foi realizada cistoscopia, na qual foi identificada e ressecada macroscopicamente lesão pediculada em parede lateral esquerda da bexiga.
Em análise anatomopatológica foram evidenciadas alterações reacionais em urotélio, bem como edema e focos hemorrágicos em córion, infiltrado mono e polimorfonuclear, sem evidências de malignidade. Recebeu alta em bom estado geral no dia seguinte, com boa evolução pós operatória e sem recorrência do quadro.
CONCLUSÃO
A síndrome hemorrágica por contato com espécies do gênero Lonomia é incomum na prática clínica, porém pode cursar com repercussões importantes e é uma causa de hematúria franca, podendo este ser o sinal que leva o paciente a buscar assistência médica. Sendo assim, seu conhecimento pelo urologista se faz necessário para adequado diagnóstico e condução desses casos a fim de evitar repercussões mais graves. Além disso, ressaltamos que, mesmo em vigência de distúrbio hemorrágico evidente, a hematúria macroscópica deve sempre ser investigada, uma vez que pode se dever a lesão vesical.
FIGURA 1
Equimoses em membro superior do pacienteced by CYP (150 mg/kg, i.p.).

FIGURA 2
Exemplar de Lonomia sp.

FIGURA 3
Lesão de aspecto inflamatório à cistoscopiaced by CYP (150 mg/kg, i.p.).
